Sobre la categoría Texto

Na 8ª Bienal de Tipografia Latino-Americana, dos 444 trabalhos revisados pelo júri, 50 foram inscritos na categoria Texto. Isso representa um número significativo, tendo em vista que a partir desta edição da Tipos Latinos aconteceram algumas subdivisões não existentes em Bienais anteriores. Nesse sentido é importante destacar a criação das novas categorias Superfamília, para sistemas tipográficos mais amplos, e Novos Talentos (Emergentes), cujo objetivo foi a abertura para novos profissionais e/ou estudantes que ainda não haviam tido experiências prévias de publicação comercial de tipos. Nessa última categoria citada, uma considerável parcela dos projetos inscritos foram também famílias para texto – e de qualidade notória, vale destacar.

No que diz respeito à categoria Texto, em particular, o que se viu foi um alto nível de qualidade técnica entre os trabalhos inscritos. Esse fato, evidentemente, tornou o processo de escolha para a mostra seletiva uma tarefa especialmente desafiadora e gratificante. Nesse sentido, o confronto entre o que era apresentado nas lâminas e seu texto de argumentação foi determinante para compreendermos como cada designer pensa sobre seu trabalho e como seus respectivos projetos se propõem a estar no mundo.

Algumas características marcantes que pudemos observar nos trabalhos nessa categoria foram: a variedade de proposições para diferentes modos de aplicação de tipos em diversas situações de leitura, bem como em diferentes mídias; e a disposição para resolver a conjunção entre diferentes sistemas de escrita em uma mesma família. Atualmente, a variedade de meios em que estamos permeados e suas manifestações, que vão muito além da mancha de texto no parágrafo impresso, é algo que deve ser definitivamente considerado. Do mesmo modo, devemos considerar como a cultura globalizada e em rede, aliada às particularidades regionais, impõem novas necessidades de comunicação tipográfica. O multiculturalismo, portanto, é uma realidade prática que se mostra cada vez mais presente na produção latino-americana. Outro aspecto evidente foi a presença considerável de desenhos tipográficos de texto com grande personalidade, equalizando de maneira exemplar a legibilidade e as potencialidades de exploração da linguagem formal de maneira sistêmica.

Ao fim, considerando esses múltiplos fatores e o recorte de uma exposição, foram selecionados 15 projetos da categoria Texto para compor a mostra, embora muitos mais apresentavam condições profissionais evidentes. Esse fato demostra, mais uma vez, como o nível qualitativo dos projetos cresce a cada edição, e que a Bienal Tipos Latinos tende a seguir cada vez mais competitiva nos anos que virão.

Dentre os selecionados, 2 receberam Menção de Excelência por parte do corpo de jurados: Atahualpa, de Alejandro Lo Celso; e Otta, de Francisco Gálvez. Nos dois casos, tratam-se de famílias tipográficas cuja estrutura formal das letras possui o que chamamos no ocidente de contraste invertido. Atahualpa é uma família de romanas e itálicas bem pouco convencionais e que chamam atenção para si em corpos grandes, ao mesmo tempo que mantém um bom desempenho de leitura em corpos de texto, mesmo com suas relações de eixo bem pouco convencionais. Já a Otta é um sistema tipográfico mais extenso, em que o contraste invertido nas romanas e itálicas faz especial sentido quando as confrontamos, no mesmo espaço gráfico, com outros sistemas de escrita. É o caso do árabe e do hebraico que, por suas próprias tradições específicas, têm uma tendência natural a um eixo mais inclinado à esquerda, invertendo a relação de traços finos e grossos como estamos habituados no mundo ocidental. Junto a essas, a família ainda inclui fontes em grego, cirílico e kana – todos convivendo em uma brilhante e surpreendente harmonia formal.


Ricardo Esteves

Mestre em Design pela Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi-Uerj) e graduado em Desenho Industrial pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professor na UFES desde 2011, desenvolve pesquisas e projetos nas áreas de design de tipos e design da informação. Algumas de suas famílias tipográficas foram expostos nas edições 2008, 2010 e 2014 da Bienal Latino-Americana de Tipografia e são distribuídas por empresas como Monotype e Adobe, por meio de sua fundidora de um homem só Outras Fontes. É autor do livro “O Design Brasileiro de Tipos Digitais: a configuração de um campo profissional”, publicado pela editora Blucher em 2010. Atual coordenador técnico do Brasil no comitê Tipos Latinos.